Candidatos usam a religião para se elegerem
O Estado é laico – julga seus habitantes apenas pela lei e pala razão, sem interferência da religião -, mas a política não. Pelo menos é assim que pensa e age a Igreja Universal do Reino de Deus que em Uberlândia seguirá a orientação da cúpula nacional e colocará um pastor na disputa a um cargo de vereador. Para tentar arrebanhar os votos do fiéis o nome indicado é o do pastor Isaac Cruz (PRB). No mais, as outras religiões com templos na cidade até o momento não têm candidatos diretamente envolvidos na disputa pelos votos dos “fiéis” eleitores. Mesmo assim, o assunto político não deixa de ser debatido nos templos, principalmente, os cristãos católicos e evangélicos. É uma história que se repete a cada eleição. À medida que o mês de outubro se aproxima, mais se aquece o debate sobre o peso do chamado “voto religioso”.
Neste ano, até outubro, os 1,8 mil fiéis que passarem pelos cultos diários da catedral da Igreja Universal, no bairro Aparecida, serão informados que a igreja apoia um de seus pastores. Isaac Francisco Cruz, um sergipano que está há dois anos e meio em Uberlândia é o escolhido. Ele está na Universal há 32 anos e comanda o setor de comunicação da igreja. Esta é a segunda vez que ele irá disputar uma vaga no Legislativo. Em 2008, ele havia tentado ser vereador em Itajubá, no sul de Minas Gerais. Além disso, trabalhou como assessor de um vereador no Rio de Janeiro.
O pastor Isac espera conquistar cerca de 4 mil votos, pelo menos 500 a mais que o atual representante da igreja, pastor Leandro, conseguiu quando foi eleito em 2008. Pastor Leandro, por sua vez, deixará o cenário político para, segundo ele, se dedicar a outras áreas da igreja. “A gente não conta só com os votos dos fiéis. O voto não é de cabresto. Mas dentro dos nossos templos outro candidato não fará campanha. Nós temos regras e interesses que defendemos”, disse o pastor Isac.
A ocupação de uma das cadeiras no Legislativo é uma das formas que as igrejas encontram para poder ter influência além dos templos. Isso pode ser notado na participação de políticos ligados a alguma religião que cresceu na eleição passada, quando foram eleitos cinco vereadores ligados a igrejas. Hoje na Câmara, Célio Moreira, Wilson Pinheiro, Márcio Nobre, Carlito Cordeiro e Willian Alvorada formam a bancada evangélica. Até o fim de março, a bancada ainda contava com pastor Leandro, ligado à Igreja Universal. Além desses, o presidente da Casa, Vilmar Rezende, é católico.
Postura idêntica é a dos espíritas que adotam a prática de não permitir pedidos de votos nos templos nem recomendam candidaturas. Segundo a presidente da Aliança Municipal Espírita, que congrega centros, Neuza de Fátima Mendonça, muitos candidatos se dizem espíritas, mas não praticam a fé e estudam pouco a doutrina. “O candidato pode até dizer que é espírita, mas não é candidato dos espíritas até porque não dá para ser político e espírita ao mesmo tempo. Ser espírita é cumprir com a palavra. Tem muita gente que não o faz. A dignidade humana não pode ser negociada. Ela não é uma conquista. É inerente à vida” disse.
Porém, assim como parte dos evangélicos em Uberlândia, nos templos católicos não haverá espaço para discursos e pedidos de votos. Segundo o bispo Dom Paulo Francisco Machado, os religiosos não devem se candidatar nem indicar candidatos. “O padre deve ser um agregador, um elo de união entre os fiéis, portanto, não cabe a ele disputar cargos. Por isso, não deve ser filiado a partido político. Já os leigos têm até como ato de caridade se colocar a serviço da comunidade”, afirmou.
Dom Paulo diz que o fiel católico terá o livre direito de escolher seus representantes. “Temos que levar para as urnas não só o nosso voto pessoal, mas a consciência de que o nosso voto tem consequências para a vida do povo.”
Os católicos de Uberlândia já debateram a pré-candidatura a vereador do padre Amauri Paixão, que chegou a afirmar que tinha apoio da metade do clero da cidade, composto de mais de 40 padres. Padre Amauri chegou até a manifestar a sua intenção de disputar uma das 27 vagas da Câmara Municipal ao bispo dom Paulo Machado. Por sua vez, o bispo diocesano na época descartou a hipótese. “Ele sabe do meu posicionamento e, caso decida seguir com essa pretensão, sabe também que eu posso até suspendê-lo das atividades sacerdotais”, afirmou a autoridade.
Para João Batista, estar ligado à Igreja ajuda também a reduzir os gastos com uma eleição. “Com um publico cativo é mais fácil controlar o gasto financeiro e as ações de marketing do candidato. Ele sai na frente dos concorrentes.”
O cientista político lembra também que os políticos católicos e evangélicos podem até parecerem rivais, mas, na prática, há muito mais ações conjuntas do que embates doutrinários. “A igreja sempre tentará ocupar espaço no poder para participar dele. Assim acontece, por exemplo, quando as bandeiras conservadoras são colocadas em debate. Nessa hora é importante ter um representante que dê eco aos interesses religiosos”, disse.
Maria de Fátima Paiva foi eleita com 2.985 votos para a legislatura (1997/2000) pelo PSDB. Ligada ao movimento carismático na época da eleição, mas sem ligações com militância política, a votação surpreendeu. Depois de cumprir o mandato, abandonou a carreira política. ”A verdade é que a gente se acovarda diante das questões que fogem do nosso controle. Lamento não ter continuado porque não queria fazer política como as pessoas fazem. Muita gente luta, dignifica a atividade, mas a estrutura é equivocada. O uso do bem comum não é um objetivo único”, afirma.
José Corsino, que era ligado à Assembleia de Deus, continua filiado ao DEM. Eleito com 2.912 votos também para a legislatura 1997/2000 tentou a reeleição e não conseguiu novo êxito nas urnas. Corsino hoje se dedica a atividades agropastoris em Palmas (TO). “Fiz um trabalho digno e contribui para o desenvolvimento da cidade. Hoje cuido da fazenda e não tenho interesse em voltar à vida pública”, disse.
Francisco Hélio é o que pode ser considerado surpresa. Pouco conhecido em 1996 candidatou–se pelo PSL e conseguiu 1.679 votos. Quatro anos depois não conseguiu se reeleger e sumiu do cenário político.
Neste ano, até outubro, os 1,8 mil fiéis que passarem pelos cultos diários da catedral da Igreja Universal, no bairro Aparecida, serão informados que a igreja apoia um de seus pastores. Isaac Francisco Cruz, um sergipano que está há dois anos e meio em Uberlândia é o escolhido. Ele está na Universal há 32 anos e comanda o setor de comunicação da igreja. Esta é a segunda vez que ele irá disputar uma vaga no Legislativo. Em 2008, ele havia tentado ser vereador em Itajubá, no sul de Minas Gerais. Além disso, trabalhou como assessor de um vereador no Rio de Janeiro.
O pastor Isac espera conquistar cerca de 4 mil votos, pelo menos 500 a mais que o atual representante da igreja, pastor Leandro, conseguiu quando foi eleito em 2008. Pastor Leandro, por sua vez, deixará o cenário político para, segundo ele, se dedicar a outras áreas da igreja. “A gente não conta só com os votos dos fiéis. O voto não é de cabresto. Mas dentro dos nossos templos outro candidato não fará campanha. Nós temos regras e interesses que defendemos”, disse o pastor Isac.
A ocupação de uma das cadeiras no Legislativo é uma das formas que as igrejas encontram para poder ter influência além dos templos. Isso pode ser notado na participação de políticos ligados a alguma religião que cresceu na eleição passada, quando foram eleitos cinco vereadores ligados a igrejas. Hoje na Câmara, Célio Moreira, Wilson Pinheiro, Márcio Nobre, Carlito Cordeiro e Willian Alvorada formam a bancada evangélica. Até o fim de março, a bancada ainda contava com pastor Leandro, ligado à Igreja Universal. Além desses, o presidente da Casa, Vilmar Rezende, é católico.
Outras igrejas
Contudo, não será assim tão fácil fazer campanha pelo menos nas igrejas comandadas por pastores ligados ao Conselho de Pastores (Conpas). Pelo menos 100 igrejas evangélicas filiadas à entidade só vão decidir qual postura adotar diante das eleições no mês de junho, em uma reunião marcada justamente para esse fim. O presidente do Conpas, pastor Edson Borges, afirma que muitos políticos acham que a entidade é um forte aliado político. Segundo ele, cada igreja decide como conduzir o processo em seus templos, mas em outras eleições funcionou a norma de não permitir campanha nos templos. “O interessado pode até participar do culto, mas não será indicado como nosso candidato. O que faremos é incentivar o fiel a ter uma postura participativa na eleição escolhendo o nome que melhor lhe convier. Vamos mostrar que anular, votar em branco ou deixar de comparecer às urnas não é cidadania”, afirmou.Postura idêntica é a dos espíritas que adotam a prática de não permitir pedidos de votos nos templos nem recomendam candidaturas. Segundo a presidente da Aliança Municipal Espírita, que congrega centros, Neuza de Fátima Mendonça, muitos candidatos se dizem espíritas, mas não praticam a fé e estudam pouco a doutrina. “O candidato pode até dizer que é espírita, mas não é candidato dos espíritas até porque não dá para ser político e espírita ao mesmo tempo. Ser espírita é cumprir com a palavra. Tem muita gente que não o faz. A dignidade humana não pode ser negociada. Ela não é uma conquista. É inerente à vida” disse.
Igreja que induzir os seus fiéis ao voto consciente
A Igreja Católica, por sua vez, pretende se envolver no debate político de maneira mais efetiva. O Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou a cartilha “Eleições Municipais 2012: cidadania para a democracia”. A publicação foi elaborada numa parceria pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Centro Nacional de Fé e Política “Dom Helder Câmara” (Cefep) e Pastorais Sociais. A proposta é ajudar o eleitor a realizar uma boa reflexão em vista do voto consciente.Porém, assim como parte dos evangélicos em Uberlândia, nos templos católicos não haverá espaço para discursos e pedidos de votos. Segundo o bispo Dom Paulo Francisco Machado, os religiosos não devem se candidatar nem indicar candidatos. “O padre deve ser um agregador, um elo de união entre os fiéis, portanto, não cabe a ele disputar cargos. Por isso, não deve ser filiado a partido político. Já os leigos têm até como ato de caridade se colocar a serviço da comunidade”, afirmou.
Dom Paulo diz que o fiel católico terá o livre direito de escolher seus representantes. “Temos que levar para as urnas não só o nosso voto pessoal, mas a consciência de que o nosso voto tem consequências para a vida do povo.”
Os católicos de Uberlândia já debateram a pré-candidatura a vereador do padre Amauri Paixão, que chegou a afirmar que tinha apoio da metade do clero da cidade, composto de mais de 40 padres. Padre Amauri chegou até a manifestar a sua intenção de disputar uma das 27 vagas da Câmara Municipal ao bispo dom Paulo Machado. Por sua vez, o bispo diocesano na época descartou a hipótese. “Ele sabe do meu posicionamento e, caso decida seguir com essa pretensão, sabe também que eu posso até suspendê-lo das atividades sacerdotais”, afirmou a autoridade.
Uso de uma religião ajuda a obter sucesso nas urnas
Estar ligado a uma crença religiosa ajuda o candidato a ter sucesso nas urnas. É o que pensa o cientista político da Universidade Federal de Uberlândia, João Batista Domingos. “Uma liderança religiosa com um grande respaldo na frente social, tendo um perfil de respeitabilidade, prestígio poderá vir a superar facilmente um concorrente”, afirmou.Para João Batista, estar ligado à Igreja ajuda também a reduzir os gastos com uma eleição. “Com um publico cativo é mais fácil controlar o gasto financeiro e as ações de marketing do candidato. Ele sai na frente dos concorrentes.”
O cientista político lembra também que os políticos católicos e evangélicos podem até parecerem rivais, mas, na prática, há muito mais ações conjuntas do que embates doutrinários. “A igreja sempre tentará ocupar espaço no poder para participar dele. Assim acontece, por exemplo, quando as bandeiras conservadoras são colocadas em debate. Nessa hora é importante ter um representante que dê eco aos interesses religiosos”, disse.
Ex-vereadores cumpriram um mandato e depois saíram de cena
Pela Câmara Municipal de Uberlândia já passaram vereadores de vários credos. Desde campeões de voto a outros considerados zebras, eles ocuparam os cargos de maneiras distintas tentando reeleição ou abandonaram a carreira.Maria de Fátima Paiva foi eleita com 2.985 votos para a legislatura (1997/2000) pelo PSDB. Ligada ao movimento carismático na época da eleição, mas sem ligações com militância política, a votação surpreendeu. Depois de cumprir o mandato, abandonou a carreira política. ”A verdade é que a gente se acovarda diante das questões que fogem do nosso controle. Lamento não ter continuado porque não queria fazer política como as pessoas fazem. Muita gente luta, dignifica a atividade, mas a estrutura é equivocada. O uso do bem comum não é um objetivo único”, afirma.
José Corsino, que era ligado à Assembleia de Deus, continua filiado ao DEM. Eleito com 2.912 votos também para a legislatura 1997/2000 tentou a reeleição e não conseguiu novo êxito nas urnas. Corsino hoje se dedica a atividades agropastoris em Palmas (TO). “Fiz um trabalho digno e contribui para o desenvolvimento da cidade. Hoje cuido da fazenda e não tenho interesse em voltar à vida pública”, disse.
Francisco Hélio é o que pode ser considerado surpresa. Pouco conhecido em 1996 candidatou–se pelo PSL e conseguiu 1.679 votos. Quatro anos depois não conseguiu se reeleger e sumiu do cenário político.
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