Eles foram punidos por escolhas erradas. Mas têm a chance de reparar o erro. “Hoje estou me redimindo com o senhor”.
A última vez que estes dois homens se viram foi há cinco anos. Antônio Marciano é aposentado, viúvo. Mora sozinho com um filho. Em 2007, ele foi assaltado. Tinha R$ 100 no bolso.
“O cara veio, um por detrás, me segurou. Segurou, o outro me ateou a mão no bolso e levou o dinheiro. Saíram correndo”, conta Antônio.
Ualace era um dos assaltantes. Foi preso em 2008.
Ualace: Eu gostaria de falar pro senhor que o que eu fiz pro senhor no passado não é certo. E vou pagar tudo o que eu devo para o senhor.
Antonio: Não, você não deve nada. Eu não tenho nada... Mas se você quer repor o dinheiro, eu pego, sim.
Ualace: “Vou repor, sim”.
Ualace entrega um cheque de R$ 227, o valor corrigido que ele levou de seu Antônio.
Ualace: “Perdão”.
Antônio: “Nada, não tem nada que perdoar”.
Era isso que Marta Lucia de Barros, mãe do Ualace, também esperava: “Ele teve muito deslize na vida. Então a gente fica muito emocionada. Então só dele estar recebendo o perdão desse senhor, para mim está sendo muito bom”.
A audiência é rápida, só quatro minutos. E o juiz encerra com uma recomendação: “Que esse gesto seja de coração, Ualace, que ele sirva para um novo começo”.
Ualace participa de um projeto criado há três meses no sul de Minas Gerais, em Santa Rita do Sapucaí, cidade de 38 mil habitantes.
Foi ideia do juiz José Henrique Mallmann. Para ele, só a pena não basta. É preciso também indenizar as vítimas: “Você tem a pena com aquele suporte vingativo. Tirar a pessoa da sociedade. Mas o dano à vítima fica esquecido. Então com isso você repara o dano”.
Os presos estão reformando o Fórum de Santa Rita do Sapucaí. Já pintaram a parte da frente e agora estão trabalhando na parte de trás. Eles recebem por mês, por este trabalho, R$ 622. Parte deste salário vai para as vítimas. A outra parte, para a família do preso.
Santa Rita do Sapucaí tem 130 detentos. Gilson Rafael Silva, diretor do presídio, escolheu seis para entrar no programa - aqueles com bom comportamento e que já tinham cumprido parte da pena: “A aceitação foi 100%, todos eles quiseram participar do projeto”, diz o diretor.
Difícil foi convencer as vítimas a encarar um episódio doloroso do passado. Um jovem demorou dois meses para aceitar o reencontro. E preferiu não ser identificado.
Do outro lado da mesa, também sem mostrar o rosto, o homem que furtou a moto do rapaz, no ano passado.
Quando a polícia encontrou a moto ela estava danificada, com o chassi trocado e também com outra pintura. O dono gastou cerca de R$ 1.500 para deixar ela exatamente como era antes. E é esse valor que o preso vai devolver para a vítima.
O detento tira do bolso a parcela que vai pagar este mês: R$ 310 em notas e uma moedinha de R$ 1.
“Me desculpe por tudo que eu fiz de errado pra você. E isso aí para mim está sendo uma lição de vida. E minha meta é só melhorar”, diz o detento.
“Tranquilo, cara, que você aproveite uma conduta diferente”, responde a vítima.
O rapaz da moto, que tanto adiou essa conversa, garante: está pronto para as duas próximas audiências:
“Faço questão de vir receber da mão dele o dinheiro. Porque todo ser humano está sujeito a erro”.
Em alguns casos, este aperto de mãos não é com a vítima. Os condenados por tráfico de drogas entregam o dinheiro a uma entidade, que oferece tratamento a dependentes químicos. É uma tentativa de ajudar a recuperar pessoas que um dia eles próprios encaminharam para as drogas.
“Esse dinheiro será pras necessidades diárias da fazenda, nos gastos que a fazenda tem hoje com atividades agropecuárias”, diz Kléber Dantas Júnior, secretário da entidade.
Os presos que participam do projeto continuam trabalhando no fórum, que já mudou bastante. Os moradores de Santa Rita perceberam: “Achei que ficou boa a pintura”, diz um morador. “Deu outra vista. Renovou”, comenta outra moradora.
O salário dos presos é pago por empresários da cidade: “A nossa empresa nasceu aqui, nós fazemos parte dessa comunidade, então nada melhor do que trabalhar também pra que a gente tenha uma cidade melhor”, diz o empresário Marcos Vilela.
E este trabalho deve ajudar Ualace a sair mais cedo da prisão. A cada três dias de serviço, um dia a menos na pena. Ele pode ir para o regime aberto em novembro deste ano.
Vai sair um pouco mais leve, graças ao perdão do Seu Antônio: “Tirou mais um peso. Agora só falta esse, ir embora”.
“Não há uma garantia que essa pessoa não vai voltar para o crime. A garantia que a gente pode ter é que essa pessoa vai pensar bem antes de voltar para o crime, porque ele recebeu a mão do outro lado. Da própria vítima”, diz o juiz.
Quem aceitou dar a mão também ganha com esse encontro. Seu Antônio já sabe o que vai fazer com o dinheiro que recebeu: “Tenho que comprar um fogão. Está velhinho. Está usado demais”
E mostra que já deixou o passado para trás: “Eu perdoei ele, perdoei ele. Está bom. Ele que seja feliz. E eu também”.
Se você fosse vítima de um assalto, aceitaria reencontrar o criminoso? Ficar cara a cara com ele? E mais: você conseguiria perdoá-lo? Pois isso está acontecendo em uma cidade pequena do Sul de Minas Gerais, graças à iniciativa de um juiz.
Eles foram punidos por escolhas erradas. Mas têm a chance de reparar o erro. “Hoje estou me redimindo com o senhor”.
A última vez que estes dois homens se viram foi há cinco anos. Antônio Marciano é aposentado, viúvo. Mora sozinho com um filho. Em 2007, ele foi assaltado. Tinha R$ 100 no bolso.
“O cara veio, um por detrás, me segurou. Segurou, o outro me ateou a mão no bolso e levou o dinheiro. Saíram correndo”, conta Antônio.
Ualace era um dos assaltantes. Foi preso em 2008.
Ualace: Eu gostaria de falar pro senhor que o que eu fiz pro senhor no passado não é certo. E vou pagar tudo o que eu devo para o senhor.
Antonio: Não, você não deve nada. Eu não tenho nada... Mas se você quer repor o dinheiro, eu pego, sim.
Ualace: “Vou repor, sim”.
Ualace entrega um cheque de R$ 227, o valor corrigido que ele levou de seu Antônio.
Ualace: “Perdão”.
Antônio: “Nada, não tem nada que perdoar”.
Era isso que Marta Lucia de Barros, mãe do Ualace, também esperava: “Ele teve muito deslize na vida. Então a gente fica muito emocionada. Então só dele estar recebendo o perdão desse senhor, para mim está sendo muito bom”.
A audiência é rápida, só quatro minutos. E o juiz encerra com uma recomendação: “Que esse gesto seja de coração, Ualace, que ele sirva para um novo começo”.
Ualace participa de um projeto criado há três meses no sul de Minas Gerais, em Santa Rita do Sapucaí, cidade de 38 mil habitantes.
Foi ideia do juiz José Henrique Mallmann. Para ele, só a pena não basta. É preciso também indenizar as vítimas: “Você tem a pena com aquele suporte vingativo. Tirar a pessoa da sociedade. Mas o dano à vítima fica esquecido. Então com isso você repara o dano”.
Os presos estão reformando o Fórum de Santa Rita do Sapucaí. Já pintaram a parte da frente e agora estão trabalhando na parte de trás. Eles recebem por mês, por este trabalho, R$ 622. Parte deste salário vai para as vítimas. A outra parte, para a família do preso.
Santa Rita do Sapucaí tem 130 detentos. Gilson Rafael Silva, diretor do presídio, escolheu seis para entrar no programa - aqueles com bom comportamento e que já tinham cumprido parte da pena: “A aceitação foi 100%, todos eles quiseram participar do projeto”, diz o diretor.
Difícil foi convencer as vítimas a encarar um episódio doloroso do passado. Um jovem demorou dois meses para aceitar o reencontro. E preferiu não ser identificado.
Do outro lado da mesa, também sem mostrar o rosto, o homem que furtou a moto do rapaz, no ano passado.
Quando a polícia encontrou a moto ela estava danificada, com o chassi trocado e também com outra pintura. O dono gastou cerca de R$ 1.500 para deixar ela exatamente como era antes. E é esse valor que o preso vai devolver para a vítima.
O detento tira do bolso a parcela que vai pagar este mês: R$ 310 em notas e uma moedinha de R$ 1.
“Me desculpe por tudo que eu fiz de errado pra você. E isso aí para mim está sendo uma lição de vida. E minha meta é só melhorar”, diz o detento.
“Tranquilo, cara, que você aproveite uma conduta diferente”, responde a vítima.
O rapaz da moto, que tanto adiou essa conversa, garante: está pronto para as duas próximas audiências:
“Faço questão de vir receber da mão dele o dinheiro. Porque todo ser humano está sujeito a erro”.
Em alguns casos, este aperto de mãos não é com a vítima. Os condenados por tráfico de drogas entregam o dinheiro a uma entidade, que oferece tratamento a dependentes químicos. É uma tentativa de ajudar a recuperar pessoas que um dia eles próprios encaminharam para as drogas.
“Esse dinheiro será pras necessidades diárias da fazenda, nos gastos que a fazenda tem hoje com atividades agropecuárias”, diz Kléber Dantas Júnior, secretário da entidade.
Os presos que participam do projeto continuam trabalhando no fórum, que já mudou bastante. Os moradores de Santa Rita perceberam: “Achei que ficou boa a pintura”, diz um morador. “Deu outra vista. Renovou”, comenta outra moradora.
O salário dos presos é pago por empresários da cidade: “A nossa empresa nasceu aqui, nós fazemos parte dessa comunidade, então nada melhor do que trabalhar também pra que a gente tenha uma cidade melhor”, diz o empresário Marcos Vilela.
E este trabalho deve ajudar Ualace a sair mais cedo da prisão. A cada três dias de serviço, um dia a menos na pena. Ele pode ir para o regime aberto em novembro deste ano.
Vai sair um pouco mais leve, graças ao perdão do Seu Antônio: “Tirou mais um peso. Agora só falta esse, ir embora”.
“Não há uma garantia que essa pessoa não vai voltar para o crime. A garantia que a gente pode ter é que essa pessoa vai pensar bem antes de voltar para o crime, porque ele recebeu a mão do outro lado. Da própria vítima”, diz o juiz.
Quem aceitou dar a mão também ganha com esse encontro. Seu Antônio já sabe o que vai fazer com o dinheiro que recebeu: “Tenho que comprar um fogão. Está velhinho. Está usado demais”
E mostra que já deixou o passado para trás: “Eu perdoei ele, perdoei ele. Está bom. Ele que seja feliz. E eu também”.
Se você fosse vítima de um assalto, aceitaria reencontrar o criminoso? Ficar cara a cara com ele? E mais: você conseguiria perdoá-lo? Pois isso está acontecendo em uma cidade pequena do Sul de Minas Gerais, graças à iniciativa de um juiz.
Eles foram punidos por escolhas erradas. Mas têm a chance de reparar o erro. “Hoje estou me redimindo com o senhor”.
A última vez que estes dois homens se viram foi há cinco anos. Antônio Marciano é aposentado, viúvo. Mora sozinho com um filho. Em 2007, ele foi assaltado. Tinha R$ 100 no bolso.
“O cara veio, um por detrás, me segurou. Segurou, o outro me ateou a mão no bolso e levou o dinheiro. Saíram correndo”, conta Antônio.
Ualace era um dos assaltantes. Foi preso em 2008.
Ualace: Eu gostaria de falar pro senhor que o que eu fiz pro senhor no passado não é certo. E vou pagar tudo o que eu devo para o senhor.
Antonio: Não, você não deve nada. Eu não tenho nada... Mas se você quer repor o dinheiro, eu pego, sim.
Ualace: “Vou repor, sim”.
Ualace entrega um cheque de R$ 227, o valor corrigido que ele levou de seu Antônio.
Ualace: “Perdão”.
Antônio: “Nada, não tem nada que perdoar”.
Era isso que Marta Lucia de Barros, mãe do Ualace, também esperava: “Ele teve muito deslize na vida. Então a gente fica muito emocionada. Então só dele estar recebendo o perdão desse senhor, para mim está sendo muito bom”.
A audiência é rápida, só quatro minutos. E o juiz encerra com uma recomendação: “Que esse gesto seja de coração, Ualace, que ele sirva para um novo começo”.
Ualace participa de um projeto criado há três meses no sul de Minas Gerais, em Santa Rita do Sapucaí, cidade de 38 mil habitantes.
Foi ideia do juiz José Henrique Mallmann. Para ele, só a pena não basta. É preciso também indenizar as vítimas: “Você tem a pena com aquele suporte vingativo. Tirar a pessoa da sociedade. Mas o dano à vítima fica esquecido. Então com isso você repara o dano”.
Os presos estão reformando o Fórum de Santa Rita do Sapucaí. Já pintaram a parte da frente e agora estão trabalhando na parte de trás. Eles recebem por mês, por este trabalho, R$ 622. Parte deste salário vai para as vítimas. A outra parte, para a família do preso.
Santa Rita do Sapucaí tem 130 detentos. Gilson Rafael Silva, diretor do presídio, escolheu seis para entrar no programa - aqueles com bom comportamento e que já tinham cumprido parte da pena: “A aceitação foi 100%, todos eles quiseram participar do projeto”, diz o diretor.
Difícil foi convencer as vítimas a encarar um episódio doloroso do passado. Um jovem demorou dois meses para aceitar o reencontro. E preferiu não ser identificado.
Do outro lado da mesa, também sem mostrar o rosto, o homem que furtou a moto do rapaz, no ano passado.
Quando a polícia encontrou a moto ela estava danificada, com o chassi trocado e também com outra pintura. O dono gastou cerca de R$ 1.500 para deixar ela exatamente como era antes. E é esse valor que o preso vai devolver para a vítima.
O detento tira do bolso a parcela que vai pagar este mês: R$ 310 em notas e uma moedinha de R$ 1.
“Me desculpe por tudo que eu fiz de errado pra você. E isso aí para mim está sendo uma lição de vida. E minha meta é só melhorar”, diz o detento.
“Tranquilo, cara, que você aproveite uma conduta diferente”, responde a vítima.
O rapaz da moto, que tanto adiou essa conversa, garante: está pronto para as duas próximas audiências:
“Faço questão de vir receber da mão dele o dinheiro. Porque todo ser humano está sujeito a erro”.
Em alguns casos, este aperto de mãos não é com a vítima. Os condenados por tráfico de drogas entregam o dinheiro a uma entidade, que oferece tratamento a dependentes químicos. É uma tentativa de ajudar a recuperar pessoas que um dia eles próprios encaminharam para as drogas.
“Esse dinheiro será pras necessidades diárias da fazenda, nos gastos que a fazenda tem hoje com atividades agropecuárias”, diz Kléber Dantas Júnior, secretário da entidade.
Os presos que participam do projeto continuam trabalhando no fórum, que já mudou bastante. Os moradores de Santa Rita perceberam: “Achei que ficou boa a pintura”, diz um morador. “Deu outra vista. Renovou”, comenta outra moradora.
O salário dos presos é pago por empresários da cidade: “A nossa empresa nasceu aqui, nós fazemos parte dessa comunidade, então nada melhor do que trabalhar também pra que a gente tenha uma cidade melhor”, diz o empresário Marcos Vilela.
E este trabalho deve ajudar Ualace a sair mais cedo da prisão. A cada três dias de serviço, um dia a menos na pena. Ele pode ir para o regime aberto em novembro deste ano.
Vai sair um pouco mais leve, graças ao perdão do Seu Antônio: “Tirou mais um peso. Agora só falta esse, ir embora”.
“Não há uma garantia que essa pessoa não vai voltar para o crime. A garantia que a gente pode ter é que essa pessoa vai pensar bem antes de voltar para o crime, porque ele recebeu a mão do outro lado. Da própria vítima”, diz o juiz.
Quem aceitou dar a mão também ganha com esse encontro. Seu Antônio já sabe o que vai fazer com o dinheiro que recebeu: “Tenho que comprar um fogão. Está velhinho. Está usado demais”
E mostra que já deixou o passado para trás: “Eu perdoei ele, perdoei ele. Está bom. Ele que seja feliz. E eu também”.
Se você fosse vítima de um assalto, aceitaria reencontrar o criminoso? Ficar cara a cara com ele? E mais: você conseguiria perdoá-lo? Pois isso está acontecendo em uma cidade pequena do Sul de Minas Gerais, graças à iniciativa de um juiz.
Eles foram punidos por escolhas erradas. Mas têm a chance de reparar o erro. “Hoje estou me redimindo com o senhor”.
A última vez que estes dois homens se viram foi há cinco anos. Antônio Marciano é aposentado, viúvo. Mora sozinho com um filho. Em 2007, ele foi assaltado. Tinha R$ 100 no bolso.
“O cara veio, um por detrás, me segurou. Segurou, o outro me ateou a mão no bolso e levou o dinheiro. Saíram correndo”, conta Antônio.
Ualace era um dos assaltantes. Foi preso em 2008.
Ualace: Eu gostaria de falar pro senhor que o que eu fiz pro senhor no passado não é certo. E vou pagar tudo o que eu devo para o senhor.
Antonio: Não, você não deve nada. Eu não tenho nada... Mas se você quer repor o dinheiro, eu pego, sim.
Ualace: “Vou repor, sim”.
Ualace entrega um cheque de R$ 227, o valor corrigido que ele levou de seu Antônio.
Ualace: “Perdão”.
Antônio: “Nada, não tem nada que perdoar”.
Era isso que Marta Lucia de Barros, mãe do Ualace, também esperava: “Ele teve muito deslize na vida. Então a gente fica muito emocionada. Então só dele estar recebendo o perdão desse senhor, para mim está sendo muito bom”.
A audiência é rápida, só quatro minutos. E o juiz encerra com uma recomendação: “Que esse gesto seja de coração, Ualace, que ele sirva para um novo começo”.
Ualace participa de um projeto criado há três meses no sul de Minas Gerais, em Santa Rita do Sapucaí, cidade de 38 mil habitantes.
Foi ideia do juiz José Henrique Mallmann. Para ele, só a pena não basta. É preciso também indenizar as vítimas: “Você tem a pena com aquele suporte vingativo. Tirar a pessoa da sociedade. Mas o dano à vítima fica esquecido. Então com isso você repara o dano”.
Os presos estão reformando o Fórum de Santa Rita do Sapucaí. Já pintaram a parte da frente e agora estão trabalhando na parte de trás. Eles recebem por mês, por este trabalho, R$ 622. Parte deste salário vai para as vítimas. A outra parte, para a família do preso.
Santa Rita do Sapucaí tem 130 detentos. Gilson Rafael Silva, diretor do presídio, escolheu seis para entrar no programa - aqueles com bom comportamento e que já tinham cumprido parte da pena: “A aceitação foi 100%, todos eles quiseram participar do projeto”, diz o diretor.
Difícil foi convencer as vítimas a encarar um episódio doloroso do passado. Um jovem demorou dois meses para aceitar o reencontro. E preferiu não ser identificado.
Do outro lado da mesa, também sem mostrar o rosto, o homem que furtou a moto do rapaz, no ano passado.
Quando a polícia encontrou a moto ela estava danificada, com o chassi trocado e também com outra pintura. O dono gastou cerca de R$ 1.500 para deixar ela exatamente como era antes. E é esse valor que o preso vai devolver para a vítima.
O detento tira do bolso a parcela que vai pagar este mês: R$ 310 em notas e uma moedinha de R$ 1.
“Me desculpe por tudo que eu fiz de errado pra você. E isso aí para mim está sendo uma lição de vida. E minha meta é só melhorar”, diz o detento.
“Tranquilo, cara, que você aproveite uma conduta diferente”, responde a vítima.
O rapaz da moto, que tanto adiou essa conversa, garante: está pronto para as duas próximas audiências:
“Faço questão de vir receber da mão dele o dinheiro. Porque todo ser humano está sujeito a erro”.
Em alguns casos, este aperto de mãos não é com a vítima. Os condenados por tráfico de drogas entregam o dinheiro a uma entidade, que oferece tratamento a dependentes químicos. É uma tentativa de ajudar a recuperar pessoas que um dia eles próprios encaminharam para as drogas.
“Esse dinheiro será pras necessidades diárias da fazenda, nos gastos que a fazenda tem hoje com atividades agropecuárias”, diz Kléber Dantas Júnior, secretário da entidade.
Os presos que participam do projeto continuam trabalhando no fórum, que já mudou bastante. Os moradores de Santa Rita perceberam: “Achei que ficou boa a pintura”, diz um morador. “Deu outra vista. Renovou”, comenta outra moradora.
O salário dos presos é pago por empresários da cidade: “A nossa empresa nasceu aqui, nós fazemos parte dessa comunidade, então nada melhor do que trabalhar também pra que a gente tenha uma cidade melhor”, diz o empresário Marcos Vilela.
E este trabalho deve ajudar Ualace a sair mais cedo da prisão. A cada três dias de serviço, um dia a menos na pena. Ele pode ir para o regime aberto em novembro deste ano.
Vai sair um pouco mais leve, graças ao perdão do Seu Antônio: “Tirou mais um peso. Agora só falta esse, ir embora”.
“Não há uma garantia que essa pessoa não vai voltar para o crime. A garantia que a gente pode ter é que essa pessoa vai pensar bem antes de voltar para o crime, porque ele recebeu a mão do outro lado. Da própria vítima”, diz o juiz.
Quem aceitou dar a mão também ganha com esse encontro. Seu Antônio já sabe o que vai fazer com o dinheiro que recebeu: “Tenho que comprar um fogão. Está velhinho. Está usado demais”
E mostra que já deixou o passado para trás: “Eu perdoei ele, perdoei ele. Está bom. Ele que seja feliz. E eu também”.
Muito bom isso aí para os pequenos assaltos, e os que não tem violência.
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